Artigo | A centralidade da defesa da Venezuela para fortalecer a luta antifascista na América Latina

Venezuela se coloca como um centro de debate, trocas, formulações e ações de combate ao fascismo. Foto: Reprodução/Instagram

Texto de Vittoria Paz, militante do Movimento Brasil Popular

Em um contexto mundial de avanço da extrema direita e de novas formas do fascismo de existir em pleno século XXI, a Venezuela se coloca como um centro de debate, trocas, formulações e ações de combate a essa doutrina, em diálogo com países de todas as regiões do globo. Sendo assim, é necessário que os movimentos e demais organizações populares do mundo inteiro estejam atentos ao mês de janeiro de 2025, quando acontece a posse do presidente eleito democraticamente, Nicolás Maduro no dia 10 de janeiro, e em paralelo, acontece o Festival Mundial Antifascista entre os dias  5 e 16 de janeiro.

É diante desse cenário da conjuntura atual que os movimentos populares, partidos, sindicatos, e demais organizações de esquerda do mundo inteiro, especialmente do Sul Global, se voltam a uma agenda de ações de compreensão da atual conjuntura para pensar uma agenda de ações unitárias em torno da luta antifascista, antiimperislita e anticolonial. 

Entre os dias 10 e 11 de setembro de 2024, ocorreu em Caracas, na Venezuela o “Congresso Mundial Contra o Fascismo, neo fascismo e outras expressões similares”, organizado pelo Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), que contou com a participação de mais de 2 mil delegados e delegadas de 90 países diferentes. 

Nesse espaço foi instaurado, pelo próprio presidente Nicolás Maduro, a Internacional Antifascista. Partindo do entendimento de que a extrema direita possui articulações internacionais muito fortes, é também uma necessidade urgente da esquerda se unir em nível internacional contra “a vanguarda extremista do capitalismo”, como disse a própria vice presidenta da Venezuela, Delcy Rodríguez. 

Ainda em novembro de 2024 foi organizado o Capítulo Juventude do Congresso Mundial Contra o Fascismo como forma de dar destaque e protagonismo da juventude e estudantes nessa agenda de luta e na elaboração de planos de ação em torno das condições de vida da classe trabalhadora e das perspectivas de futuro. 

Após o Congresso da Juventude e estudantes, ocorreu ainda em Caracas, como continuidade dos espaços anteriores a “Internacional Antifascista por um Novo Mundo”, onde os debates que vinham sendo feitos e as propostas que vinham sendo elaboradas foram concretizadas a partir de um Comitê Promotor Antifascista. Após dois dias de debates e elaboração de propostas e articulações, alguns importantes encaminhamentos foram feitos, entre eles: a criação de uma secretaria operativa com sede em Caracas; a criação de um Foro de Caracas, com o intuito de juntar intelectuais de todos os países; foi feita a convocatória para o festival das juventudes entre os dias 8 e 9 de janeiro de 2025; e, por fim, fizemos a Declaração Antifascista de Caracas por um Novo Mundo. 

Esses esforços que partem do governo da Venezuela e partidos e movimentos populares são de extrema importância nesse momento da história. O governo  de Nicolás Maduro tem sido forte alvo de ataques da direita e extrema direita mundial, especialmente desde a última eleição presidencial em julho. 

O país, que sofre as consequências de uma verdadeira guerra econômica e política, através de diversas sanções e ações externas de desestabilização, se coloca como articulador de uma agenda de luta que afeta fortemente não apenas a Venezuela, mas também de forma intensa Cuba, Haiti e Palestina. Esse avanço da extrema direita e de suas formas de agressões contra outros países, seja por bloqueios econômicos ou com o financiamento a guerras e genocídios, é uma forma do capitalismo, em um momento de crise, procurar formas de sobrevivência. Assim, os Estados Unidos procuram manter sua hegemonia em declínio e se impor ao mundo.  

Nesse sentido, as relações bilaterais entre os países “inimigos do imperialismo” é algo que se coloca como prioritário na agenda de luta, e portanto, o fortalecimento dos países do Sul Global, por meio de mecanismos de troca, diálogo, cooperação e solidariedade. Não apenas em relação a um campo institucional, como é o caso dos BRICS, mas das relações entre organizações populares. 

As relações do atual governo brasileiro com o Governo Maduro são alvo de preocupações, devido a falta de reconhecimento do resultado eleitoral venezuelano por parte do Brasil. Esse posicionamento do governo Lula impacta diretamente as tentativas de um processo de integração regional maior da América Latina, ao não assumir a soberania do país nos seus processos internos, processos esses que dizem respeito ao povo venezuelano e suas próprias instituições, e não à interferência estrangeira dentro do país. 

Apesar das tentativas do imperialismo de se manter no poder e enfraquecer os países do Sul Global, na Venezuela, a democracia venceu e Nicolás Maduro foi reeleito presidente. E não apenas a eleição foi ganha pela esquerda, como, se caminharmos pelo país, pelas suas comunas, suas ruas, bares e centros de comércio vemos que existe uma distorção de narrativa muito forte vinda da mídia hegemônica sobre o que se passa de fato no país. 

Há uma imagem vendida para fora de caos, violência e perseguição que não condiz com a realidade vista de dentro. Existe um cotidiano de construção de força popular, sobretudo dentro das comunas, seus diversos movimentos e suas diversas atividades políticas, que demonstram que o caminho da construção popular, da construção política e da massificação se encontra especialmente nesses espaços, na defesa dos territórios e na construção de base chavista. 

A vitória de Maduro é um marco importante na história recente da América Latina, e um momento para os movimentos e organizações populares da região se unirem no apoio à posse, que ocorrerá dia 10 de janeiro. Um apoio que não diz apenas sobre a vitória eleitoral, mas sobre a vitória popular, a vitória do projeto das comunas, a vitória da revolução bolivariana e uma vitória que acumula para a América Latina como um todo, e que necessita ser veiculada, transmitida e comunicada para fora.

Este é um artigo de opinião pessoal e não necessariamente representa a posição do conjunto do Movimento Brasil Popular