A tarefa fundamental do campo democrático e popular é construir um movimento de massas em torno da candidatura Boulos. Ricardo Stuckert / PR
Por Paulo Henrique Lima, militante do Movimento Brasil Popular
As recentes pesquisas eleitorais realizadas para a prefeitura de São Paulo têm apontado a liderança da candidatura Guilherme Boulos (PSOL), com 23% das intenções de voto, seguido por Pablo Marçal (PRTB) e o atual prefeito Ricardo Nunes (MDB), ambos com 22%.
Além de uma situação de empate técnico, com as três principais candidaturas emboladas, as pesquisas têm revelado uma fragmentação do tecido social da sociedade paulistana. Entre os segmentos mais pobres da classe trabalhadora, com renda até 2 salários mínimos, Nunes tem liderado com 28% , evidenciando o impacto eleitoral dos investimentos em obras públicas do último ano e a força do poder econômico da gestão municipal. Em seguida Boulos aparece com 19% e Marçal com 17%, demonstrando que apesar do início do horário eleitoral, a candidatura do campo democrático e popular ainda não conseguiu conquistar a maior parte do eleitorado lulista. Entre os eleitores com renda de 2 a 5 salários mínimos, Boulos e Marçal empatam com 24% das intenções de votos, e Nunes segue com 21%. No segmento acima de 5 salários mínimos, Boulos e Marçal empatam com 24%, seguidos de Nunes com 21%.
Fato político importante foi a entrada na última semana do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) na campanha de Ricardo Nunes, acirrando ainda mais a disputa pelo voto bolsonarista. Não à toa, Tarcísio no ato do 7 de setembro na avenida Paulista, criticou o ministro Alexandre de Moraes e defendeu a anistia aos presos da tentativa golpista do 8 de janeiro, tudo isso feito ao lado do ainda líder da extrema direita brasileira, Jair Bolsonaro.
Enquanto isso, Pablo Marçal, que havia retornado de El Salvador, país comandado pelo extremista Nayib Bukele, nítida inspiração de Marçal em seus posicionamentos e performance, foi impedido por Silas Malafaia de falar no caminhão de som. Marçal se colocou em meio a multidão, propagandeando ao extremo sua presença no ato, criando no interior do bolsonarismo a lógica do “nós e eles”. Desse modo, a disputa pelo voto conservador tende a se intensificar ainda mais nas próximas semanas.
Diante deste cenário complexo, dois riscos que se colocam para a campanha de Guilherme Boulos. Primeiro, não identificar corretamente qual o inimigo principal a ser derrotado durante o processo eleitoral. Por mais que tenha ocorrido um esforço de “bolsonarização” de Ricardo Nunes, Pablo Marçal é o inimigo principal a ser batido e deve ser considerado inimigo do povo e da democracia. Uma eventual vitória de Pablo Marçal representaria uma derrota política e ideológica para o conjunto da esquerda brasileira, e significaria a retomada da ofensiva da extrema-direita , interrompida momentaneamente com a vitória de Lula. Esse cenário exige uma tática eleitoral por parte do campo democrático e popular que combine a denúncia da má gestão de Ricardo Nunes, e o combate implacável à candidatura de Pablo Marçal.
O segundo risco é subestimar a força da extrema-direita no país, especialmente, na cidade de São Paulo. É possível que a candidatura Pablo Marçal esteja sub-representada e que a força de um certo conservadorismo popular seja ainda maior do que aparece nas pesquisas. Portanto, embora não seja o cenário mais provável, não podemos descartar que devido a força do aparato municipal e estadual expresso na candidatura Nunes se coloque um cenário onde as duas candidaturas do campo conservador passem ao segundo turno.
Por isso, a tarefa fundamental do campo democrático e popular é construir um movimento de massas em torno da candidatura Boulos. Somente isso pode assegurar a candidatura Boulos no segundo turno. Mas para isso, a candidatura Boulos precisa polarizar o debate político, aprofundando e ganhando o debate programático em torno dos principais problemas enfrentados pelo povo de São Paulo, especialmente em torno de temas como segurança pública, geração de emprego e renda, saúde e educação. Por fim, em um momento de profunda crise, marcado pelo ceticismo de parte significativa da população com o “sistema” e com os “políticos” é necessário conquistar corações e mentes da população, recuperando a mística e a esperança de uma cidade de São Paulo justa e democrática.
Conquistar a prefeitura de São Paulo, a cidade economicamente mais importante do país, pode significar uma barreira importante no enfrentamento ao fascismo no país. Mas para isso será necessário fazermos ajustes na forma como temos feito a campanha. É fundamental que toda a militância de esquerda e do campo progressista se engaje na tarefa de mais uma vez derrotar eleitoralmente o fascismo. Essa “guerra de posição” no aparato de Estado é fundamental para que possamos acumular forças e possamos definitivamente derrotarmos o fascismo também na sociedade.
*Este é um artigo de opinião pessoal e não necessariamente representa a posição do conjunto do Movimento Brasil Popular.