Artigo | Prefeito e Governador de São Paulo se juntam aos defensores da tortura e violência policial para atacar a escola de samba Vai-Vai

“Os policiais do Choque são representados como figuras demoníacas, uma figura de linguagem bastante pertinente.” / Foto: Divulgação/Vai Vai

*Texto de Igor Galvão, militante do Movimento Brasil Popular

No último dia 10 de fevereiro, a escola mais premiada do carnaval paulista, o Grêmio Recreativo, Cultural e Social Vai-Vai, levou para a avenida um super enredo em homenagem ao rap e o hip-hop, estilo musical e cultural altamente popular na cidade de São Paulo, que tem em um de seus maiores expoentes o grupo Racionais MC’s. O desfile contou com a presença de figuras ilustres como o próprio Mano Brown.

Uma das alas do desfile, “Sobrevivendo no Inferno”, faz alusão ao álbum do mesmo grupo que trata sobre a altíssima violência policial que assombrava as periferias nos anos 80, e especialmente ao mundialmente conhecido e repudiado Massacre do Carandiru. Os policiais do Choque são representados como figuras demoníacas, uma figura de linguagem bastante pertinente para tratar de seres tão abjetos quanto aqueles responsáveis pela carnificina do povo preto e periférico. 

A bancada da Bala, que figura os salões do legislativo com projetos de lei que buscam anistiar responsáveis pela matança do povo, como o deputado federal Capitão Augusto (PL), organizaram ataques orquestrados à escola, pressionando pela suspensão de subvenção pública para o próximo ano e até mesmo o impedimento da escola de desfilar. Algo descabido e totalmente ditatorial. Mas de parlamentares como estes, nada se espera a não ser o pior, sempre.

Ocorre que, na esteira do absurdo, o governador bolsonarista Tarcísio de Freitas (Republicanos) declarou que daria zero à escola de samba Vai-Vai, fazendo coro à sua base de sustentação. Vale ressaltar que este mesmo governador tem impedido o avanço do projeto de instalação de câmeras nas fardas da Polícia Militar e lidera hoje a Operação Escudo, que tem feito dezenas de vítimas na Baixada Santista. Ao estilo daqueles que orquestraram o Massacre do Carandiru, mas agora nas favelas do estado. Tarcísio nem sequer pisou no sambódromo para abrir o carnaval, enviou seu vice-governador, dando claros sinais de que não apoia a cultura popular.

Na mesma toada, o prefeito Ricardo Nunes (MDB), outrora amigo das escolas de samba, cuja Secretaria de Cultura Aline Torres vive para lá e para cá dizendo-se grande apoiadora desta manifestação cultural, saiu também em defesa da bancada da Bala e dos torturadores de plantão ao sinalizar que trataria com a Liga das Escolas de Samba de São Paulo uma possível punição à escola de samba Vai-Vai. O movimento não deve passar despercebido: Nunes, que tentará reeleição este ano, tem baixíssimos índices de aprovação e vem flertando cada vez mais com o bolsonarismo, sendo seu vice inclusive indicado pelo ex-presidente, inelegível e hoje investigado por tentativa de golpe de Estado, Jair Bolsonaro. 

Apesar do ataque coordenado hoje mirar no Vai-Vai, é fundamental que todas as escolas de samba filiadas à LigaSP e à UESP se manifestem repudiando qualquer sanção ou punição, pois este é um verdadeiro ataque à todas as escolas de samba, à sua liberdade de colocar na avenida enredos que possam tocar em feridas e questionar o status quo, questionar um sistema que por séculos escravizou o povo preto e hoje mantém refém milhões de trabalhadores na pobreza, sem direitos básicos como o trabalho digno, um teto, alimentação saudável, saúde de qualidade, enfim, direitos básicos que para grande parte dos componentes das comunidades das escolas de samba são constantemente negados. 

Como diz o quilombo da saracura em seu samba-enredo “não faço parte da elite que insiste em boicotar”, e não queremos fazer parte desta elite podre, racista e violenta, cujo projeto político se expressa nas figuras do atual prefeito da capital e do governador do estado de São Paulo. Liberdade para as escolas de samba! Viva o Quilombo da Saracura! Viva a escola do povo Vai-Vai em seus 94 anos de existência! Acharam que estávamos derrotados, mas quem achou estava errado.

Este é um artigo de opinião pessoal e não necessariamente representa a posição do conjunto do Movimento Brasil Popular

Deixe um comentário