Artigo | Notas sobre o Equador

10 de janeiro de 2024

Confronto entre forças armadas e população equatoriana (Foto: Divulgação)
Confronto entre forças armadas e população equatoriana (Foto: Divulgação)

1. Neoliberallismo, organizações criminosas internacionais e pobreza

a) Há 7 anos (governos Lenin Moreno, Lasso e agora o do Noboa), o Equador passa por um giro na sua política, aprofundando um projeto neoliberal de privatizações e piora das condições de vida da população. Há uma unidade da classe dominante equatoriana em torno do projeto neoliberal, que reúne mídia, banqueiros e fazendeiros. Lasso era banqueiro, Noboa é filho do fazendeiro mais rico do país. Por outro lado, o país registra 34% dos jovens entre 15 e 24 anos na pobreza, número que chega a 70% se olhamos para a população que vive na zona rural, majoritariamente indígena.

b) Em 2022, a taxa de homicídio dobrou com relação a 2021, alcançando 26 mortes a cada 100 mil habitantes. Em 2023, esse número subiu para 35. O projeto neoliberal tem conseguido aprofundar a instabilidade política, a desigualdade, a violência e as crises sociais.

c) O país é 100% dolarizado, portanto é um país atraente para investidores financeiros e capitais ilícitos, para lavar dinheiro. As Forças de Segurança do país deveriam focar na lavagem de dinheiro para combater os grandes grupos criminosos. O dados do Observatório do Crime Organizado no Equador (OECO), apontam que o tráfico de droga é a principal expressão criminosa a nível nacional, com uma incidência de 23%, mas em segundo lugar está a lavagem de dinheiro com 17%.

d) A política de militarização da sociedade tem servido para gerar caos e pânico na população e criminalizar a pobreza, porque a maioria dos encarcerados são as pessoas que estão na base do crime organizado e não no topo. De um dos países mais seguros da América do Sul (no governo de Rafael Correa), nos últimos anos, o Equador foi transformado no país mais violento dos Andes, com um aumento das guerras entre os grupos criminosos porque disputam o mercado e as rotas de tráfico de drogas e de armas, além de extorquirem a população e se infiltrarem no Estado.

e) Guerra entre cartéis poderosos em outros países fizeram do Equador um dos pontos internacionais para o narcotráfico. Aqui temos que destacar a influência dos cartéis do México, Colômbia e a máfia da Albânia, que se instalaram no Equador. O Equador está entre Colômbia e Peru, ambos são os grandes produtores de cocaína na região. O Equador tem localização estratégica, pois seus portos estão próximos ao Pacífico, ponto de partida de cocaína para Europa e EUA.

f) “Los Choneros”, um dos grupos criminosos mais poderosos do Equador e que é liderado por Fito (principal suspeito de ter mandado executar Villacencio, o candidato presidente assassinado em agosto), tem ligações diretas com o cartel mexicano de Sinaloa. O principal rival de “Los Choneros” é o grupo “Los Lobos”, que por sua vez tem aliança com outro cartel mexicano, inimmigo do Sinaloa, chamado Jalisco Nueva Generación.

2. Relação com os EUA: não podemos vacilar em relação a expansão do “projeto OTAN” para todas as regiões do globo

a) Recentemente, foram assinados novos acordos bilaterais militares entre os EUA e países andinos, entre eles o Equador. O objetivo de tais acordos é facilitar a venda de armas, treinamento e desembarque de tropas dos EUA nestes países, o que leva ao aprofundamento da Doutrina Monroe na região, afinal há mais espaço para a influência militar dos EUA nestes países.

b) Na última terça-feira (9), o subsecretário para Assuntos do Hemisfério Ocidental do Departamento de Estado dos Estados Unidos, Brian Nichols, disse “Estamos muito preocupados, apoiamos o povo equatoriano e estamos prontos para dar assistência e apoio ao governo equatoriano”. Ou seja, é evidente a disposição em seguir aprofundando estas relações nos marcos de maior participação dos EUA na política doméstica do Equador.

c) O Plano Colômbia é o principal exemplo sobre os resultados e o significado deste “apoio dos EUA”. Por décadas, esse Plano serviu para financiar, armar e adestrar as Forças de Segurança (Polícia e FFAA) de países andinos, especialmente a colombiana. Após décadas de envio de bilhões de dólares, armas e treinamento, o que vimos na Colômbia foi o criminoso aumento de assassinatos e perseguição de líderes sociais e reforço de bandas paramilitares vinculadas ao narcotráfico internacional. Ou seja, a tal “assistência militar dos EUA” é a mesma política falida e letal no Equador, na Colômbia, na Ucrânia, na Palestina, no Haiti e por aí vai.

3. Possíveis saídas para resolver estes problemas sócio-econômicos

a) Reverter as políticas neoliberais que privilegiam o enriquecimento de poucos as custas da piora de vida da maioria, para reverter esse cenário de caos e pânico social.

b) Reverter a ideologia militarista que fortalece a extrema diretia, democratizando a economia e a doutrina de segurança do país, repaldando a soberania e dignidade do povo. Ou seja, fazer o contrário do que está em curso com todos esses acordos militares com os EUA.

c) Apoiar a proposta do governo boliviano de construirmos uma integração regional para combater o narcotráfico na região, a “Alianza Latinoamericana Antinarcóticos” (ALA). Temos que resolver nossos problemas em unidade e sem ter a intervenção de outros países, sobretudo a dos EUA.

** Giovani del Prete é militante do Movimento Brasil Popular

Edição: Ana Carolina Vasconcelos

Este é um artigo de opinião pessoal e não necessariamente representa a posição do conjunto do Movimento Brasil Popular

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