Por Eliane Martins, da Equipe Pedagógica da Escola Nacional de Formação do PT, da Fundação Perseu Abramo e da Direção Nacional do Movimento Brasil Popular
Diante do atual cenário político do país e das contradições e oportunidades que se apresentam, é preciso identificar os desafios principais a serem enfrentados na organização da classe trabalhadora brasileira. No último período, houve uma maior acumulação de poder econômico e político da classe patronal, ao mesmo tempo em que ocorreu um desempoderamento e empobrecimento dos trabalhadores. Esse desequilíbrio de forças é verificável ao se observar a impressionante indústria da segurança patrimonial.
Esse cenário também reflete no cotidiano dos lutadores e lutadoras, que são povo e, com o povo, vivenciam os impactos das crises econômica, política, social, ideológica e climática, que se acirraram nos últimos anos. Dessa forma, precisamos criar as condições materiais básicas e políticas, para que os antigos e novos militantes possam atuar. Ou seja, nossos planos de trabalho precisam considerar com centralidade o debate de finanças, para dar sustentação tanto às pessoas que vão desenvolver o trabalho quanto às ações planejadas.
Após mais de trinta anos de hegemonia da agenda cultural e econômica neoliberal, os próprios trabalhadores já se identificam com as lógicas dos patrões, se reconhecendo como empreendedores. Ou seja, estamos diante de um novo sujeito.
Logo, é fundamental a elaboração de programa de formação, voltado para o trabalho de base, que contribua com a construção de força social junto aos novos trabalhadores que, em sua maioria, são precarizados, informais e vivem da venda da força de trabalho, para que se entendam como sujeitos de direitos e de lutas coletivas.
Encarar a questão do crime organizado
Também temos o desafio de compreender como a atuação do crime organizado se insere nesse processo. Não podemos continuar ignorando essa enorme força, presente sobretudo nas periferias dos grandes centros urbanos, com controle de territórios, ditando as ordens sobre quem, onde e como se pode falar com o povo.
Para avançarmos, é preciso encarar esse problema como parte da gestão das massas sobrantes do mundo do trabalho e entender que uma das formas de enfrentar esse problema passa por criarmos novas políticas de trabalho. Precisamos, por exemplo, lutar por uma robusta política de Economia Solidária e Popular, que coloque meios de produção e recursos financeiros, técnicos e de gestão nas mãos de coletivos de trabalhadores.
Fé e política
Ao mesmo tempo, não podemos continuar tratando o tema das igrejas neopentecostais de modo pejorativo, igualando as pequenas igrejas, localizadas em bairros populares, com as posições de um Malafia.
O crescimento da presença desse setor nas periferias brasileiras é fruto das demandas de acolhimento e de explicação sobre o mundo. E, atualmente, ambas têm sido atendidas por pastores populares, embora muitos sob uma lógica messiânica misturada com uma teologia da prosperidade.
Não são temas simples de serem tratados, mas as experiências demonstram que é preciso retomar o trabalho de base alicerçado na relação entre a fé e a política. Para isso, é necessária a articulação dos setores do cristianismo progressista, capazes de formular um conjunto de ações organizativas e formativas, a exemplo dos Círculos Populares de leitura da Bíblia.
Um outro mundo é possível
Para superar o atual quadro e avançarmos na organização popular, é urgente potencializar a elaboração de uma mensagem de esquerda, que apresente uma proposta de futuro, uma narrativa comum, mais ampla, e com potencial de mobilização social.
Precisamos ressignificar o poder local, dando mais visibilidade às ações e propostas de resolução dos problemas concretos do povo, e proporcionando espaços para o encontro e contato entre a diversidade de iniciativas locais, que existem, mas ainda não se conhecem.
Também é fundamental tratar a batalha de ideias na formação política, articulada a uma base material que seja capaz de deslegitimar as ideias, as propostas e a visão de mundo da burguesia. Para isso, no campo organizativo, precisamos retomar a articulação de coletivos regionais e estaduais de formação, que coordenam programas, cursos e escolas de base.
Por fim, é necessário avançar nas relações internacionais, da luta anti-imperialista, de solidariedade e de visibilidade dos embriões de outra sociedade, afirmando a necessidade de um outro modo de vida. Um outro mundo é possível e o Projeto Democrático e Popular é necessário.
Este é um artigo de opinião pessoal e não necessariamente representa a posição do conjunto do Movimento Brasil Popular
Edição: Ana Carolina Vasconcelos