Entrevista | Na Jornada de Solidariedade, a ideia é “levar a mensagem da esperança para o povo”, diz Bruna Raquel

Neste mês de dezembro, o Movimento Brasil Popular está construindo a Jornada Nacional de Solidariedade Contra a Pobreza e a Fome, que reúne diversas iniciativas para realizar ações de solidariedade em comunidades vulneráveis em todas as grandes regiões do país. A iniciativa reúne diversos movimentos populares, a exemplo do MST, CUT, PT, Coordenação Nacional de Entidades Negras (Conen), Movimento dos Trabalhadores e das Trabalhadoras por Direitos (MTD) e o Levante Popular da Juventude.

No Ceará, estado onde o Movimento Brasil Popular constrói cozinhas populares desde 2020, a jornada acontece pelo terceiro Natal consecutivo com ações voltadas à oito comunidades da periferia de Fortaleza e região metropolitana e também na cidade de Sobral, no sertão do estado.

É o que explica Bruna Raquel, militante do Movimento Brasil Popular no Ceará. “A ideia é levar essa mensagem de esperança para o povo, de que a união e a auto-organização são fundamentais. Vamos entregar essas cestas com produtos natalinos e levar essa mensagem de que essas pessoas têm a capacidade de mudar a sociedade e que a gente junto tem capacidade de mudar esse cenário que está colocado para nós, de fome e miséria. No governo Lula só vamos ter vitória na sociedade quando toda a sociedade estiver unida com esse sentimento de mudança”, ressalta. Confira a entrevista completa com Bruna:

Movimento Brasil Popular: Bruna, como tem sido o processo de organização e arrecadação para a jornada?

Bruna Raquel: A galera está mobilizada, já fazendo arrecadação nos bairros… em alguns bairros já tem essa cultura de fazer ações de Natal. O primeiro ano da jornada foi muito animado pelo MST,  aí veio o leite, frutas e a gente fez cestas e distribuiu; no segundo ano, já eram as ceias, porque a gente tinha esse projeto das cozinhas mais consolidados, então algumas cozinhas fizeram um panetone e a ceia nas ruas. 

A mensagem é sempre essa da união comunitária, de fazer com que os territórios se autoorganizem para fazer também suas celebrações.  É importante para alguns territórios celebrar as boas novas, porque muitas vezes esses territórios passam o ano tendo dificuldades com a questão da violência e do extermínio, então isso faz com que celebrar o Natal seja celebrar a vida dos que ficaram, as vitórias, as conquistas e celebrar a união. É uma data muito importante.

MBP: As cozinhas do Ceará já vem de um processo de organização desde a pandemia, mas recentemente o Governo do Estado lançou o Ceará Sem Fome, com ações de apoio às cozinhas. Qual a sua avaliação do programa e quais foram os benefícios para as cozinhas populares? 

Bruna: O Ceará Sem Fome é um programa inédito do Ceará, porque ele une a superação da fome com essa dimensão da organização popular. Nós temos um cenário no Ceará muito bom, temos um governador próximo aos movimentos populares, isso mostra muito a sensibilidade. É um programa que é coordenado por um comitê acessível e também sensível. A partir do programa a gente conseguiu consolidar nosso trabalho de base pela via da política pública, e conseguir também ampliar para alguns territórios.

Lógico, é um programa que tem muita coisa para melhorar, né? Por exemplo, nós temos uma cozinha que funciona na Bela Vista e hoje essa cozinha está fechada, porque o teto da cozinha está caindo. A gente tem um orçamento para esse ajuste que é cerca de R$ 6.000. A comunidade não tem como tirar esse dinheiro de uma hora para outra. A gente vai fazer mobilização, vai fazer rifa, enfim, vai se virar, que é o que a gente fez a vida toda, mas se a política pública fosse mais eficaz a gente com certeza teria esse espaço organizado com essa manutenção desse espaço feita pela política pública. Isso sem falar que muitas comunidades não têm acesso à  água nas cozinhas.

MBP: Estamos terminando o primeiro ano do governo Lula. Você sentiu alguma diferença na demanda das cozinhas depois da retomada de programas como o bolsa família? 

Bruna: A gente já viu os impactos na comunidade, tanto desse  programa como do dos programas em nível federal, como a retomada do Bolsa Família. A gente já vê famílias que durante a pandemia estavam próximas que já deixaram de receber a marmita, chegam para gente e falam ‘olha, a gente vai continuar vindo pra acompanhar, pra trazer uma doação, mas a gente não precisa mais. Então a gente não vai mais receber a marmita e vai deixar para quem precisa’. O preço da cesta básica caiu, isso faz com que a melhora da vida do povo seja nítida e a companheirada é consciente e dá essa esse retorno. 

A gente vê famílias que estavam muito fragilizadas, que estavam com aquela  imagem de gente mais mais sofrida e hoje essas pessoas que estão se alimentando no cotidiano nas cozinhas de segunda a sexta estão com a imagem melhor,  com um olhar esperançoso, porque elas estão conseguindo se planejar melhor, ter mais força. Isso é nítido e a gente sabe que é a política de combate à fome casada com essa política de distribuição de renda.

Edição: Emilly Firmino

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