Artigo | A urgência da inserção das pessoas com deficiência e portadores de doenças nos projetos populares

População com deficiência no Brasil atinge 18,6 milhões de pessoas. Foto: Agência Brasil

Texto de Julia Campos de Brito, Militante do Movimento Brasil Popular

É difícil engolir que a maioria não sabe o tamanho da população de pessoas com deficiência no país, que abrange 18,6 milhões, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O tema ainda é pouco discutido nos movimentos populares, mesmo se tratando de uma parcela tão expressiva da sociedade brasileira.

Devemos pautar massivamente a luta pelo direito das pessoas com deficiência (PCD), entendendo que a luta contra o capacitismo também deve ser um pilar da classe trabalhadora. Aqueles que possuem discurso humanitário, socialista e universalista não podem ignorá-la, caso contrário, o resultado é uma oportunidade para a expansão do neoliberalismo.

Há uma clara possibilidade do acúmulo de votos em Jair Bolsonaro ser também motivado pelo fato da ex-primeira-dama falar a Língua Brasileira de Sinais (Libras). A análise que torna esse curso eletivo plausível sugere que até mesmo falta liberdade política e aponta maior restrição de representatividade para o grupo mencionado.

Isso se explica pela raridade de políticas públicas e lugar de fala voltados às pessoas com deficiência. Aceitarão o candidato que mais demonstrar empatia pela sua dor, o que é totalmente compreensível.

Em um mundo cada vez mais desigual, muitas vezes deixamos de considerar que a presença de uma deficiência pode ser um fator determinante para a piora inúmeros cenários que venham a acontecer na vida de um indivíduo, principalmente se pertencer a outras minorias, uma vez que sua existência não somente gira em torno de sua forma física.

Assim sendo, significa que as mulheres com deficiência sofrem com a desigualdade de gênero de forma mais acentuada no mercado de trabalho em relação àquelas que não têm deficiência alguma. Os irmãos em situação de rua que possuem alguma deficiência ou comorbidade se veem muitas vezes diante da morte com a falta de saúde para lutar pela própria sobrevivência.

Nós não conseguiremos ascender a totalidade da classe trabalhadora se o investimento na educação para as PCD e para educar a sociedade a respeito sempre for adiado. A mobilização para promover a qualidade de vida e o acesso às atividades laborais também deve ser nossa.

Além do exposto, a questão nasce com uma complexidade gigantesca referente às famílias, especialmente as mulheres que se sobrecarregam ao cuidar. Ganha-se uma outra dimensão problemática, estabelecendo a relação entre poder socioeconômico e os recursos necessários para que a vida de todos os envolvidos seja saudável.

O propósito do Movimento Brasil Popular renasce com o fomento de formações e planejamento de projetos educacionais visando a conscientização da invisibilidade histórica que acompanham as pessoas com deficiência desde os primórdios da humanidade.

Atualmente, as pessoas com deficiência ou portadoras de alguma doença recebem as mazelas do capitalismo de forma terrivelmente discrepante. A saúde infelizmente é um produto a ser vendido como qualquer outro no sistema econômico instaurado.

“Não existe uma régua para mensurar o sofrimento de uma criança que não saiu de casa para brincar e ter uma vida de criança por mais de 30 dias devido à ausência de uma cadeira de rodas”. O relato descrito é de Fabio Carareto Borges, fundador da Associação Fabio Carareto (AIFC), projeto destinado ao conserto e doações de equipamentos para pessoas com deficiência.

Fabio foi motorista de ônibus na capital paulista por muitos anos e ficou paraplégico após um acidente de moto, onde um motorista sob efeito do álcool entrou na contramão e o atingiu a caminho do trabalho.

Após dezenas de cirurgias e anos de recuperação, hoje se dedica ao trabalho altruísta observando sua propriedade de causa e conhecimento das experiências de uma pessoa com deficiência no sistema de saúde público brasileiro. Vale ressaltar que o SUS é motivo de orgulho e exemplo para a comunidade internacional, mas uma conquista não pode coagir a luta subsequente.

Vozes como essa são imprescindíveis para o entendimento profundo de tal injustiça social. A inação e morosidade dos resultados é o fruto da falta de organização. Portanto, convido meus companheiros e minhas companheiras, simpatizantes e protagonistas da causa, a lutar por esse princípio. Não nos calaremos!

Este é um artigo de opinião pessoal e não necessariamente representa a posição do conjunto do Movimento Brasil Popular

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