Por Vanessa Gonzaga, militante do Movimento Brasil Popular
Há 54 anos atrás, em 04 de novembro de 1969, a Alameda Casa Branca, na cidade de São Paulo, era palco de mais uma das atrocidades organizadas pelos militares no poder: o assassinato à queima roupa de Carlos Marighella, militante da Ação Libertadora Nacional (ALN) e, se não o maior, um dos maiores perseguidos pelo regime que havia se instalado em 1964.
A caçada organizada para matá-lo contava com os militares do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS), que há meses buscavam Carlos, e conseguiram obter informações sobre seu paradeiro depois de sessões de tortura contra os frades Dominicanos Ivo e Fernando de Brito, e além dos militares, a caçada era noticiada pela mídia hegemônica, que estampava o rosto de marighella em cartazes de procura-se. Estado, militares e imprensa empreenderam uma longa campanha de desmoralização de Marighella e da ALN sobre a justificativa de “combate ao terrorismo e comunismo”.
Midia hegemônica participou da caçada à Marighella/ Foto: Reprodução
Mais que lembrar da sua trágica morte, o dia de hoje é uma oportunidade de relembrar quem foi Marighella em vida, seu exemplo militante e seu legado, que deve servir de exemplo para todos os lutadores e lutadoras do povo.
Em vida, o comunista baiano cumpriu tarefas em diferentes frente de atuação: Atuou diretamente na organização da juventude ainda na escola, quando organizou estudantes contra o interventor Juracy Magalhães, sendo preso por isso; na luta parlamentar, atuou na década de 1940 quando foi eleito deputado federal pelo Partido Comunista Brasileiro (PCB; e, como se não fosse suficiente, atuou diretamente na luta ideológica através de ações na imprensa, na formulação política e na escrita para fortalecer o estudo dentro das organizações pela qual passou e para o conjunto da esquerda na época.
Durante toda sua vida, era um exemplo de dedicação e disciplina para os companheiros e companheiras da organização por colocar em prática, diariamente o estudo, a preparação física (mais que necessária em tempos de guerrilha), a análise da correlação de forças, o planejamento e execução das tarefas da organização com o sigilo necessário, mas sobretudo, o amor pelo povo brasileiro através da luta por liberdade, não no sentido individual e abstrato da palavra, mas precisamente da liberdade do povo brasileiro das amarras da repressão da ditadura militar e da exploração do capitalismo.
Há alguns anos, as forças do campo democrático e popular da esquerda fazem um amplo trabalho de resgate da memória de Marighella e de outras vítimas da ditadura que se expressou em conquistas como a instalação e o trabalho efetivo da Comissão Nacional da Verdade (CNV), que ajudou a elucidar uma infinidade de crimes cometidos pelo Estado brasileiro durante os anos em que os militares estiveram no poder, e a mudança de nomes de ruas, escolas e locais que homenageavam torturadores, sendo um exemplo o Colégio Estadual Stiep Carlos Marighella, em Salvador (BA), nome escolhido após uma intensa mobilização dos estudantes e da comunidade escolar que queriam retirar da instituição a homenagem a Emílio Garrastazu Médici.
Marighella foi e continua sendo um exemplo para todos aqueles e aquelas que não tiveram tempo para ter medo. Ao passo em que construímos nossa organização, o fazemos olhando para o exemplo de diversos lutadores e lutadoras do povo, entre eles, Marighella, por sua habilidade de se inserir nas diferentes formas de luta a partir de uma profunda reflexão das tarefas necessárias numa determinada conjuntura, mas sem perder de vista a estratégia de construção da Revolução Brasileira.
A opinião deste articulista não necessariamente expressa a posição do Movimento Brasil Popular.