Texto de André Cardoso, militante do Movimento Brasil Popular em São Paulo
Durante o processo de formação e de organização dos Agentes Populares de Alimentação nos diversos territórios onde o Movimento Brasil Popular vem construindo essa iniciativa, nos deparamos com alguns desafios e tarefas concretas para avançar na luta em defesa da alimentação saudável e da soberania alimentar, que serão trabalhados nesse texto.
O elemento fundamental é que a nossa responsabilidade e compromisso com a nossa comunidade é agir na defesa da segurança alimentar. Ter os olhos, ouvidos e gestos atentos às demandas e necessidades do espaço. Nossa compreensão sobre a segurança alimentar é ampla e compreende que precisamos sempre ter comida disponível; a comida tem que ser de qualidade; a comida tem que ser saudável; deve respeitar a cultura alimentar; deve respeitar o meio ambiente e não pode comprometer o acesso a outras necessidade essenciais como moradia, transporte, saúde, higiene, vestuário, lazer, educação e previdência.
São grandes os desafios para garantir esses pontos e isso exige um longo caminho que muitos já vêm fazendo. Mas agora estamos juntos nesse processo, com o curso nos aproximando e ajudando a organizar as necessidades. Por isso, temos algumas tarefas daqui para frente: A primeira é a organização da cozinha popular em nossos territórios. Enfatizamos que cada território é uma cozinha, que quando fazemos uma leitura mais ampla, é o espaço de acolhimento, de convivência, de solidariedade, de coletividade e de transformação. A tarefa é a partir dos nossos territórios levantar as necessidades de cada uma delas, dos materiais que temos, quais materiais faltam, quais são imprescindíveis, qual a quantidade de alimento necessária para funcionar, como armazenaremos… A organização como cozinha é fundamental e nós somos essa cozinha!
A segunda tarefa é a formação permanente como uma necessidade das nossas cozinhas: A formação é o que nos liga aos desafios da organização. É importante estudar os programas dos governos, as políticas públicas, como acessá-las. A formação técnica também, que ajuda no nosso fazer e dá condições de gerar emprego e renda no nosso território. E a formação política, pois como agentes, somos sujeitos políticos e precisamos nos aperfeiçoar na troca entre nós. Temos a tarefa de multiplicar os agentes!
Outra tarefa, já pensando nos desafios futuros, é que devemos construir um calendário para o ano que vem, com as nossas ações de distribuição de alimentos. Dialogar com a realidade é ver quais são as datas importantes para nós e para nossos vizinhos e pensar momentos coletivos com todos eles. De janeiro a janeiro. Como envolver e multiplicar as cozinhas. Mas também antenados a luta da cidade, as necessidades que nos envolvem, seja na moradia, no trabalho, na educação e lazer, no cuidado com as nossas crianças. Temos que nos organizar para mudar não só a realidade dos territórios, mas da nossa cidade e país. Garantir direitos. Lutamos porque queremos e precisamos vencer as injustiças
Nesse sentido, junto com os movimentos populares de vários outros estados estamos propondo para todas as cozinhas populares e organizações a construção da Jornada Nacional de Solidaridade contra a Fome e a Sede, com o objetivo de debater o tema da fome a partir das ações práticas do Natal Sem Fome, mas também cobrar do governo ações emergenciais voltadas para essa pauta.
Para essa atividade, devemos pensar um grande momento não só de distribuição de cestas ou alimentos, mas de ajuda com regularização de documentos como títulos, consulta a carteira de trabalho, auxilio no cadastro aos dados do governo, ao programa Desenrola Brasil, ao Cadúnico, organização dos espaços que estamos com bibliotecas populares e tudo mais que for necessário e que se ligue com as necessidades dos territórios.
Os desafios são muitos, mas primeiro precisamos celebrar nossa construção coletiva e a nossa formação como agentes populares de alimentação. Juntos, como um grande movimento de cozinhas populares, daremos cada passo de mãos dadas, avançando para garantir o direito à Soberania Alimentar da nossa gente e do país!
Edição: Monyse Ravena
Vá com calma , mas vá.
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