“O grande desafio das forças populares segue sendo a construção de uma linha de massas que coloque a classe trabalhadora em movimento”. Foto: Junior Lima
Texto de Paulo Henrique Lima, militante do Movimento Brasil Popular
Na luta política não se deve subestimar a força do inimigo, mas tampouco devemos superestimá-la. A manifestação bolsonarista na avenida Paulista, no último 25 de fevereiro, com aproximadamente 200 mil pessoas, foi uma grande demonstração de força do bolsonarismo, contando com a presença de governadores, parlamentares e prefeitos, em especial da região sudeste do país. No entanto, seu objetivo central foi manter a coesão política da extrema-direita diante da ofensiva jurídica desencadeada pelo STF, para que mais à frente possa voltar a acumular forças. Neste sentido, a manifestação teve um caráter defensivo, expresso especialmente na reivindicação de um projeto de anistia para os golpistas do 8 de janeiro.
Parte das dificuldades das forças populares em diagnosticar corretamente o atual momento político, reside na situação complexa na qual nos encontramos. A vitória do Presidente Lula em 2022, embora tenha alterado a relação das forças políticas, com a conquista do governo federal, não alterou significativamente a relação de forças sociais na estrutura econômica da sociedade. Além disso, a correlação de forças desfavorável no Congresso Nacional, com a hegemonia do chamado Centrão tem sido uma espécie de “anteparo”, limitando significativamente a implementação do programa de reconstrução e transformação nacional vitorioso nas urnas.
Complementando este cenário, destaca-se o fato da classe trabalhadora brasileira ainda não ter recuperado sua capacidade de mobilização. Segundo dados do DIEESE, no primeiro semestre do ano passado, o país registrou um total de 558 greves no país. A maioria dessas greves ocorreu na esfera pública, combinando reivindicações de caráter defensivo (79,9%), e pautas de caráter propositivo (52%). O aumento de reivindicações de caráter propositivo em relação aos anos anteriores evidencia que, embora a classe trabalhadora vislumbre uma melhoria no cenário político, o quadro geral ainda é muito desfavorável. Embora os dados referentes ao segundo semestre de 2023 ainda não estejam disponíveis, com exceção da greve defensiva contra a privatização do Metrô de São Paulo, da CPTM e da Sabesp, não tivemos grandes mobilizações da classe trabalhadora no país.
Essa situação paradoxal, de baixa capacidade de mobilização da classe trabalhadora, combinada à melhoria gradual das condições de vida do povo brasileiro, expresso no aumento real do salário-mínimo e na diminuição do índice de desemprego, tem gerado o que o professor André Singer tem caracterizado como lulismo “slow motion”.
Esse cenário complexo da luta de classes no Brasil, exigirá criatividade, sabedoria e perseverança das forças populares. Antonio Gramsci, criticando o “excesso de realismo político” de alguns dirigentes e cientistas políticos, afirma que a política é sobretudo um ato criador, portanto é necessário “aplicar a vontade à criação de um novo equilíbrio das forças realmente existentes e atuantes, baseando-se naquela determinada força que se considera progressista, fortalecendo-a para fazê-la triunfar, significa continuar movendo-se no terreno da realidade efetiva, mas para dominá-la e superá-la”.
Neste sentido, as Frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo, acertam quando apontam a necessidade de retomarmos a mobilização da classe trabalhadora, através da construção de um março de lutas, iniciando no 8 de março, com a luta em defesa dos direitos reprodutivos das mulheres; o 14 de março com a denúncia dos 6 anos do assassinato de Marielle Franco; e o 23 de março, construído em todas as capitais, relacionando a necessidade de punirmos os golpistas do 8 de janeiro para que 1964 não aconteça nunca mais. Esse março de lutas, definido pelas frentes, perpassando as mobilizações do abril vermelho do MST, deverá culminar na construção de um grande 1º de maio, como mobilização unitária de luta da classe trabalhadora brasileira.
O grande desafio das forças populares segue sendo a construção de uma linha de massas que coloque a classe trabalhadora em movimento. Por isso, embora o cenário do ponto de vista social ainda seja desfavorável, devemos apostar na mobilização do povo brasileiro, para que possamos alterar a relação de forças existente na sociedade. Portanto, não se trata de simplesmente “medir forças” com a manifestação bolsonarista do 25 de fevereiro, mas sim apontar um processo de retomada da mobilização popular no país. Somente, ela poderá alterar o atual equilíbrio de forças no campo institucional e consolidar uma ofensiva política da classe trabalhadora.
Este é um artigo de opinião pessoal e não necessariamente representa a posição do conjunto do Movimento Brasil Popular