Presença e voz revolucionária negra na luta antirracista: 100 anos do legado de Malcolm X

Malcolm X (Foto: AP Photo/Eddie Adams)

*Texto de Nonato Nascimento, do Setor Nacional de Igualdade Étnico-Racial do Movimento Brasil Popular

No último dia 19 de maio de 2025, diversas organizações negras e anti-imperialistas do mundo celebraram o centenário de nascimento de Malcolm X, líder da Luta de Libertação Negra nos Estados Unidos. Sessenta anos após seu assassinato, Malcolm X segue sendo presença e voz revolucionária para toda uma geração que continua em luta contra todas as formas de opressão e exploração. Seu potente discurso durante um comício no Harlem afirmou: “Você não pode ter capitalismo sem racismo”, enunciando a natureza racializada da exploração capitalista e colocando em debate o potencial revolucionário da luta negra de libertação contra o sistema econômico sustentado também pelas opressões.

A atualidade do pensamento e da práxis de Malcolm X é amplificada pela profunda crítica social que os movimentos de Libertação Negra têm colocado em pauta frente à intensificação e aos níveis de exploração da classe trabalhadora negra no mundo. Sem sombra de dúvidas, Malcolm X foi um revolucionário atento aos desafios estruturais e políticos de seu tempo histórico. Exemplo de rebeldia frente ao imperialismo e ao colonialismo, foi profundamente solidário às lutas de libertação nacional na África e na Ásia. Ousou afirmar, no “coração” do império: “… todos os países que estão emergindo hoje, quebrando as correntes do colonialismo, estão se voltando para o socialismo. Eu não acho que seja por acaso. A maioria dos países que eram potências coloniais eram países capitalistas, e o último baluarte do capitalismo é a América.”

Malcolm X discursando em um comício de muçulmanos negros. Washington D.C. EUA. Foto: Eve Arnold / MAGNUM PHOTOS

Fazer memória do legado de Malcolm X, hoje, significa manter elevado nosso espírito revolucionário e profunda consciência de classe sobre as condições de vida da classe trabalhadora e sobre nosso lugar político no desenvolvimento da luta de classes no Brasil. Em Mensagem às Bases, Malcolm X afirma: “Temos um inimigo em comum. Temos isto em comum: um opressor em comum, um explorador em comum e um discriminador em comum”. É preciso identificar nosso inimigo comum e atuar de forma unitária para impor derrotas significativas a projetos políticos e econômicos que se sustentam na eliminação, exploração e opressão da classe trabalhadora.

Ao denunciar o conteúdo racista do capitalismo, Malcolm X politiza e coloca em debate os rumos e a intencionalidade política que as lutas de libertação das opressões devem assumir. A luta antirracista de Malcolm X é profundamente engajada com questões de natureza sistêmica e de caráter nacional que são determinantes para os níveis de opressão e exploração da comunidade negra. A ideia e proposta de libertação em Malcolm X não giram em torno da liberdade individual dentro do sistema racista, mas da libertação coletiva do racismo e do capitalismo enquanto sistemas de opressão.

É fundamental, para organizar e mobilizar as lutas antirracistas no Brasil, despertar o Malcolm X que existe em nós. Despertar a consciência política de que somente a libertação de todo o povo preto, de toda a classe trabalhadora, é a única possibilidade de derrotarmos o sistema de opressão e exploração.

Na batida do Olodum, seguimos sendo: “Latinamente um povo negro carnaxe a cantar. Bate em minha mente um povo em comum pensar”, para manter vivos entre nós os mais belos sentimentos revolucionários do mundo. E seguimos com Racionais em Voz Altiva “Precisamos de um líder de crédito popular, Como Malcolm X em outros tempos foi na américa. Que seja negro até os ossos, um dos nossos. E reconstrua nosso orgulho que foi feito em destroços.”


Malcolm X segue vivo nas nossas lutas de hoje!

*Este é um artigo de opinião e não necessariamente representa a posição do Movimento Brasil Popular

Edição: Emilly Firmino

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